Bullying Feminino - Quando as mulheres são as nossas maiores inimigas.

By Sandra Matias - março 27, 2018

Thirites
Este post não é da minha autoria, li na revista activa e é escrito por Catarina Fonseca.

" Ainda há muitas conquistas femininas a fazer e desafios a partilhar, Mas muitas vezes as mulheres traem-se e criticam-se mais do que se apoiam e ajudam, Mudar isto é urgente e interessa a todas. Catarina Fonseca"

"Numa manhã de Fevereiro, alguns bairros de Lisboa acordaram com uns cartazes colados pela rua. A mensagem ia directa ao assunto, desde o titulo (P%$# do bairro) até à ameaça (Esta rapariga tal e tal destruiu a minha vida. Teve um caso com o meu marido durante meses, sabendo que ele era casado, chegando até a engravidar. Mas Deus castigou-a e ela perdeu o bebé. Menina do papá que não passa de uma grande P%$#).
A ameaça foi rapidamente retirada mas o caso viralizou nas redes sociais e levantou uma pergunta:
Por que é que as mulheres ainda fazem a vida negra às outras mulheres, em tantos contextos e de tantas maneiras? Afinal não deviam ser as nossas maiores apoiantes?
A pergunta foi posta pela Activa a algumas mulheres e a resposta veio rápida:
Todas elas tinham casos para contar daquilo a que já se chama de Bulliyng Feminino, principalmente no local de trabalho."

CADA UM POR SI

"Há uns anos, eu era directora de departamento de uma grande empresa familiar, conta Luísa M, Um dia, numa reunião, aconteceu a situação básica: Pôs eu causa a autoridade da filha do patrão. Foi o principio da queda. Fui ostracizada de todas as maneiras, num ambiente só de mulheres. O meu gabinete foi extinto e passei para a alçada de outra pessoa porque, disseram, que não tinha capacidade de fazer o meu trabalho. Aceitou sem protestar.
Sentaram-me no meio da sala e como não faziam ideia de como nada funcionava pediram-me indicações: Recusei. Se a administração me tinha dito que trabalhava mal, que sentido fazia pedirem-me indicações?
Esteve três anos a fazer o que lhe mandavam, sem falar com ninguém. As outras estavam proibidas de me dirigir a palavra. Mais tarde, puseram a minha mesa de costas para a chefe e ela controlava-me todos os movimentos. Não contavam comigo para nada, nem bom dia me davam, e comecei a ter ataques de pânico. Acabou por pedir a demissão, mas tirou algumas conclusões da experiência:
Já devíamos ter ultrapassado estas inseguranças e esta forma infantil e primária de lidar com o que nos incomoda. Elas faziam aquilo porque tinham medo de perder os seus postos de trabalho. Somos muito feministas, mas depois quando é preciso defendermos umas ás outras acobardamo-nos."

DE PEQUENINA É QUE...

"Marta J, tem uma história de perseguição por uma...subordinada.
Eu fazia o backoffice de um conjunto de marcas, e o patrão pôs uma senhora em part-time para me ajudar. Basicamente ela queria o meu lugar e boicotou-me o meu trabalho todo.
Começou a haver falcatruas, e Marta percebeu que as pessoas com quem lidavam estavam de má vontade.
A situação piorou quando a sua "desajudante" foi viver com o dono da empresa.
Começou a boicotar-me também a partir de casa. Ligava-me ás duas da manhã, mandava-me mensagens como se fosse mulher de um homem casado com quem eu supostamente andaria. Acabei por pedir ao meu marido que tratasse disso. Ele atendeu-lhe uma chamada e disse: Ainda bem que me avisou, vou já dar-lhe uma sova. (risos).
Como se defendeu: Conseguiu desmascarar a perseguidora, que saiu da firma mas não da relação com o chefe.
Mas a minha relação profissional deteriorou-se de tal maneira que eu também acabei por sair.
Conclusão: Esta mulher fez-me a vida negra a mim, mas as outras mulheres embarcavam na história dela. Isto é sempre uma questão de poder. As mulheres têm pouco poder, quanto menos têm mais o usam.
Curiosamente, nota o mesmo comportamento nas colegas do filho, de doze anos: Os rapazes jogam à bola, zangam-se, fazem as pazes, mas não há aquele requinte feminino, aqueles joguinhos de fazer a vida negra por Whatsapp, de se unirem todas e deixarem de falar àquela, coisas terríveis! E fazem isto porque desde pequeninas! Quem é que lhes ensina isto? O meu filho tem uma amiga que gosta de jogar à bola e de brincar com rapazes. Ela teve que mudar de escola: pois na escola nova foi totalmente posta de parte, boicotada e humilhada pelas outras raparigas.
Certa vez, uma delas disse: Tu é que és a Júlia? é para te dizer que vens com a mesma roupa de ontem.
Veja a crueldade disto.
Felizmente a mãe teve bom senso e tornou a pô-la na escola antiga.

DE RIVAIS A PARCEIRAS

Nem sempre o Bullying Feminino acontece em situações de trabalho. Muitas vezes são coisas simples como dizer a uma recém mãe: Que gorda que tu estás! A maternidade é um alvo preferido de ataques por parte de muitas mulheres, que se sentem poderosas quando criticam.
Há dois anos, no seu livro Coisas de uma mãe descobre (ninguém fala), a blogger Filipa Fonseca Santos partilhou o lado menos cor-de-rosa da maternidade, mas houve muitas mulheres que não gostaram. Fui à televisão e referiram uma das crónicas sobre a amamentação, onde eu dizia que amamentar me tinha feito sentir uma vaca. Caiu o Carmo e a Trindade num festival de insultos onde lhe chamara de tudo e a levaram ás lágrimas.
E tudo por uma simples frase... As mulheres criticaram sem dó, ou porque não se amamenta ou porque se amamenta até aos três anos, como se dissessem olha aquela acha que é melhor que eu.
É como comparar os filhos, competimos muito através das crianças. Se eu disser ao o meu filho não come nada, há logo quem diga ai o meu come lindamente.
E qualquer mulher bem-sucedida é sempre porque o marido é o melhor amigo do director.
Os homens são diferentes? Claro que não, nunca lhes passaria pela cabeça criticarem-se uns aos outros, se o fazem é na brincadeira. Ás vezes invejo-lhes isso. As mulheres levam mesmo a competição a peito. E o mais engraçado é que, ao mesmo tempo que criticam, também têm uma enorme vontade de ajudar quando é preciso. Eu sou muito feminista, e acho estranhissimo como é que, se temos essa imensa capacidade solidária, não a usarmos em vez de sermos competitivas.
O pior de tudo; Continuando a afirmar-nos através da diminuição de outras.
Isso tem de parar. A partir do momento em que há mulheres que acham que já não é preciso lutar pela igualdade, está tudo dito. Aliás, quantas vezes, quando se discutem temas como salários iguais ou abortos, os ataques das mulheres são muito piores que os dos homens? Tenho esperança que a nova geração sejam diferentes. Mas ainda temos um caminho longo a aprender a ver-nos como parceiras e não como rivais.


Próximo post: Continuação... De cortar a respiração.

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